O papel da audição é determinante para o desenvolvimento da linguagem, que por sua vez, é uma aquisição primordial para a comunicação humana.
Durante a infância, abrem-se janelas de oportunidades para o desenvolvimento, que servem de base para as aprendizagens futuras. A boa aquisição da linguagem, que começa na infância, depende da soma de fatores genéticos, biológicos (funções sensoriais e percetuais) e cognitivos, com a interação da criança nos contextos em que se insere, sendo a experiência vivida nesses mesmos contextos que a circundam, um mecanismo que impulsiona grande parte do desenvolvimento cerebral após o nascimento.
Contudo, ainda que uma criança/pessoa tenha a sua capacidade auditiva sensorial normal, isto é, que os ouvidos funcionem de forma correta, esta pode manifestar dificuldades em perceber a fala, provocada pela alteração na via que transmite o som do ouvido até ao cérebro auditivo chamado processamento auditivo central (PAC), que é “o que fazemos com o que ouvimos”, (Katz 2009).
Desta forma, a capacidade de uma pessoa de identificar e processar informações auditivas, têm um papel importante, uma vez que os processos auditivos, cognitivos e de linguagem encontram-se diretamente ligados ao processamento de fala, muitas vezes, em simultâneo. Assim, não nos basta apenas ouvir, (ouvir significa que os ouvidos se encontram em bom funcionamento), é também necessário que se processe a informação auditiva no cérebro, e que esta seja associada a conceitos e pensamentos de forma correta.
Importa então dizer que, quando há um funcionamento inadequado na função auditiva Central (PAC), podemos estar perante dificuldades em localizar, analisar e discriminar o som, que se caracteriza por um desfasamento nas competências auditivas a que damos o nome de perturbação do processamento auditivo central (PPAC).
E como podemos identificar as manifestações comportamentais da perturbação do processamento auditivo central?
A presença de características como:
● Ser facilmente distraído;
● Respostas inadequadas;
● Dificuldade em perceber a fala em ambientes ruidosos;
● Dificuldades em seguir instruções predominantemente auditivas;
● Dificuldades com as rimas ou músicas infantis;
● Dificuldades no desenvolvimento da leitura e da escrita;
● Pedidos frequentes da repetição (o quê?);
● Dificuldades para perceber sarcasmo e piadas,
Podem-nos dar indicação para procurar uma avaliação multidisciplinar do processamento auditivo.
O impacto da perturbação do processamento auditivo na vida de uma pessoa pode prejudicar o seu bom funcionamento nos contextos onde está inserida. Ao perceber e/ou ampliar o nosso conhecimento sobre o processamento auditivo central é nos permitido oferecer a estas pessoas recursos que lhes permitem conhecer e desenvolver estratégias para lidar com estas dificuldades, bem como, a oportunidade de serem vistas na sua totalidade, o que seguramente as levarás a ter boas interações e um bom desenvolvimento social, pessoal e académico.