AUDIÇÃO SAUDÁVEL COMEÇA NA INFÂNCIA: COMO PREVENIR A PERDA AUDITIVA?

2025-03-03   Publicado por:

A saúde auditiva é essencial para o desenvolvimento infantil, impactando diretamente na comunicação, no desempenho escolar e nas relações interpessoais. A perda auditiva, eventualmente negligenciada, pode ter consequências irreversíveis se não for prevenida ou tratada atempadamente. A consciencialização e os cuidados preventivos são fundamentais, sobretudo durante a infância, que se configura num período sensível para o desenvolvimento auditivo. Neste artigo, discutiremos as principais causas de perda auditiva em crianças, a importância de medidas preventivas como campanhas de vacinação, e o papel vital dos pais e professores neste processo.
 
Principais causas de perda auditiva em crianças

A perda auditiva em crianças pode ter como causa uma variedade de fatores, que vão desde condições genéticas a influências ambientais. Reconhecer essas causas é essencial para a implementação de medidas preventivas eficazes, bem como para garantir um diagnóstico precoce.
 
A seguir, aprofundamos as principais causas:
 
1. Infeções de ouvido (Otite média)
A otite média é uma das causas mais frequentes de perda auditiva em crianças. Esta condição ocorre quando há acumulação de líquido no ouvido médio, geralmente devido a infeções respiratórias, como constipações ou gripes. A otite pode ser dolorosa ou mesmo indolor (silenciosa) e, se recorrente ou não tratada adequadamente, pode causar danos permanentes nas estruturas auditivas.
As crianças são particularmente vulneráveis porque a tuba auditiva (canal que liga o ouvido médio à garganta) é mais curta e horizontalizada nos primeiros anos de vida, facilitando a entrada de infeções.
 
2. Exposição a ruídos elevados
Os sons altos podem ser prejudiciais à audição infantil, mesmo quando a exposição ocorre por curtos períodos. Brinquedos sonoros muitas vezes excedem os limites seguros de volume. Além disso, o uso de auscultadores a volumes elevados e a frequência em ambientes ruidosos, como festas ou eventos desportivos, podem provocar lesões auditivas progressivas.
Os efeitos dos ruídos altos nem sempre são imediatos. A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ocorre gradualmente e pode não ser percebida até que a criança apresente dificuldades em ouvir sons mais suaves.

3. Condições genéticas e congénitas
Cerca de 40% dos casos de perda auditiva infantil são atribuídos a fatores genéticos. Estas condições podem ser hereditárias ou surgir como resultado de complicações durante a gestação, como infeções maternas (ex.: toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus) ou o uso de medicamentos ototóxicos.
Além disso, algumas crianças nascem com anomalias anatómicas no ouvido, que podem comprometer a audição desde o nascimento. Estas situações requerem acompanhamento especializado para avaliar possíveis soluções, como o uso de aparelhos auditivos ou intervenções cirúrgicas.

4. Falta de acesso a cuidados médicos e rastreios auditivos
A não realização de rastreios auditivos regulares pode levar a um diagnóstico tardio de problemas auditivos. Em muitos casos, os pais não percebem sinais precoces de perda auditiva, e a criança pode sofrer atrasos na fala, dificuldades escolares e problemas comportamentais antes que a condição seja identificada.
O rastreio neonatal, embora obrigatório em muitos países, deve ser complementado com avaliações regulares ao longo da infância, especialmente para crianças em situação de risco, como aquelas que frequentam creches ou que têm histórico familiar de problemas auditivos.

5. Outras condições de saúde
Doenças como meningite, sarampo e rubéola são causas comuns de perda auditiva em crianças. A meningite, em particular, pode danificar o nervo auditivo e as estruturas do ouvido interno, resultando em surdez permanente. Estas condições são evitáveis, em grande parte, através da vacinação.

 
Como pais e professores podem ajudar
 
A participação ativa de pais e professores é indispensável na promoção da saúde auditiva das crianças, na identificação precoce de sinais de perda auditiva e na criação de ambientes inclusivos. A seguir, apresentamos formas detalhadas de apoio:
 
1. Estar atento aos sinais de alerta
Os primeiros sinais de problemas auditivos podem ser subtis, mas a atenção dos adultos é crucial para identificá-los. Entre os sinais mais comuns estão:
- A criança não responde ao ser chamada, especialmente quando está distraída ou longe;
- Dificuldade em entender instruções verbais, mesmo em ambientes tranquilos;
- Atrasos na aquisição da linguagem, como dificuldades em formar frases completas ou pronunciar palavras;
- Frustração ou desinteresse em atividades escolares e sociais, muitas vezes confundidos com falta de atenção ou problemas comportamentais;
- Necessidade de aumentar constantemente o volume da televisão ou de dispositivos eletrónicos.
Ao notar qualquer um desses sinais, os pais devem procurar um especialista em saúde auditiva para uma avaliação completa.
 
2. Educar sobre proteção auditiva
Desde cedo, as crianças devem aprender hábitos saudáveis para proteger os ouvidos. Os pais podem ensinar a importância de evitar a exposição a sons e ruídos altos e o uso seguro de auscultadores, como manter o volume abaixo de 60% e fazer pausas regulares.
No caso de brinquedos sonoros, é importante verificar se estão dentro dos limites de intensidade seguros antes de serem oferecidos à criança.

3. Promover consultas regulares
Exames auditivos regulares são fundamentais, mesmo que não haja sinais evidentes de problemas. A partir do rastreio neonatal, deve-se estabelecer um calendário de consultas com otorrinolaringologistas e audiologistas.
As visitas devem ser mais frequentes para crianças com fatores de risco, como infeções frequentes no ouvido, histórico familiar de perda auditiva ou exposição constante a ambientes ruidosos.

4. Criar um ambiente escolar inclusivo
Professores desempenham um papel determinante na inclusão de crianças com perda auditiva. Algumas estratégias simples podem fazer toda a diferença:
Posicionar a criança perto do professor, para facilitar a compreensão das instruções;
- Utilizar recursos visuais, como gráficos, gestos e apresentações, para complementar a comunicação verbal;
- Reduzir ruídos de fundo na sala de aula, criando um ambiente mais propício à concentração e à audição;
- Garantir que as atividades escolares sejam acessíveis e adaptadas às necessidades da criança, caso ela utilize aparelhos auditivos ou implantes cocleares.

5. Colaborar com profissionais especializados
Pais e professores devem trabalhar em conjunto com terapeutas da fala, audiologistas e outros especialistas para garantir que a criança receba o suporte necessário. Estes profissionais podem orientar sobre intervenções específicas, como terapias de reabilitação auditiva ou o uso de tecnologias assistivas.
Com estas medidas, pais e professores podem não apenas ajudar a identificar e minimizar problemas auditivos, mas também criar um ambiente acolhedor e estimulante, permitindo que as crianças desenvolvam todo o seu potencial, independentemente de quaisquer limitações auditivas que possam enfrentar.


Conclusão
A audição saudável é um direito fundamental de todas as crianças e um pilar do seu desenvolvimento pleno. Investir na prevenção da perda auditiva requer um esforço conjunto entre pais, professores, profissionais de saúde e autoridades públicas. Medidas como vacinação, educação sobre proteção auditiva e deteção precoce de problemas podem fazer uma diferença significativa na vida das crianças.
Proteger a audição desde a infância é garantir que cada criança tenha as ferramentas necessárias para crescer, aprender e comunicar sem limitações. A saúde auditiva começa com pequenos gestos, mas tem um grande impacto no futuro.
 

Autor: Roberta Neves
Terapeuta da Fala CP: C-054991170
Psicopedagoga - Especialista em Aprendizagem
Exerce funções públicas como Técnica Superior
Coordenadora Científica e Docente nas áreas do Processamento Auditivo e da Linguagem
Doutoranda em Saúde Infantil | Universidade do Minho
Investigadora no Centro de Investigação em Estudos da Criança - CIEC - Universidade do Minho
Membro da Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala - No 0355
Membro da Associação Portuguesa de Terapia da Fala No 1309

Tags: #audição, #terapiadadala, #desenharfuturos, #robertaneves

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